domingo, 5 de julho de 2009

Vamos nos drogar porque é assim que caminha a humanidade!

Sexta-feira, eu acordei virada no setenta. Tinha mais gente em minha casa do que formiga no formigueiro, minha mãe não estava bem. E quem estava? Como em todos os casos de emergência, eu gritava. Eu vou, eu não vou... Eu vou, eu não vou... Acontece que o neurologista resolveu querer matar minha mãe e sua dose de remédio é muito alta, pra ajudar, além de ter se tornado uma drogada ela bebeu mais remédios do que deveria. A situação era crítica.
Havia cinco pessoas no carro para levar minha mãe, quase todas gordas, exceto por minha irmã. Nosso medo na verdade, era que com tanto gordos dentro do carro, não conseguíssemos levar minha mãe até o pronto socorro. Claro que o motorista (também gordo) sabe o quanto o seu próprio carro pode suportar e evitou todas as subidas. Lá chegamos para constatar o óbvio. Minha mãe estava drogada e nada mais poderia ser feito. Ótimo, logo minha mãe acostumou com seu novo nome, Amy Winehouse.
Mas, o que ninguém esperava era que minha dor-de-cabeça poderia fazer o problema da minha mãe virar fichinha. Reclamei lá com a médica que estava com dor-de-cabeça há dias, ela me fez algumas perguntas e logo me levou para tirar uma radiografia, descobrimos portanto que eu não tenho cabeça, onde ela deveria existir há um amontoado de bactérias e infecção generalizada. E também nessa coisa que era pra ser uma cabeça apareceu algo com um nome estranho, tipo íngua.
Sem cabeça, arrastaram-me para uma salinha tenebrosa, vi muitas seringas, fiquei até contente, como todo viciado em remédios ficaria. Fui vendo com meus olhos, porque não tenho outra coisa pra enxergar além disso, que na verdade essa salinha parecia mais um zoológico, tinha todo tipo de bicho disfarçado de enfermeiras, um orangotango, uma outra lá que tinha mais bigode do que gato, uma baixinha esquisita que parecia um tamanduá bandeira, mas a pior delas, que parecia uma capivara e falava como tal, foi a que se aproximou de mim.
Enquanto eu a via preparar minha injeção diante de mim, eu fui explicando que minhas veias eram delicadas, embora meu corpo fosse grande, que ela devia pegar minha veia em uma de minhas mãos evitando assim o famoso “estourar veia”. Mas, infelizmente eu não sei falar na língua das capivaras e acho que ela não entendeu. Apertou meu bracinho até ele ficar roxo, depois verde e depois preto. Enfiou aquela agulha uma, duas, três, quatro vezes para acontecer o inevitável. Minha pobre veia explodiu. Ela, alegre, deu uma risadinha safada, dizendo: “Bem que você avisou”. O.o
Então, desceu aquele elástico apertando meu pulso, minha mão ficou azul, depois roxa, depois preta, ela deu alguns vários tapas na pobre mão, reclamando que minhas veias ainda ali não eram das melhores. Cara, o que ela queria das veias de uma pessoa que não tem cabeça? Ótimo, enfiou novamente aquela agulha, uma, duas, três, quatro e cinco vezes, aí acreditou que tinha pegado de maneira eficaz minha veia verdinha naquela mão preta. Aplicou a injeção. Achei que minha mão fosse explodir, levantou-se uma bolha de quatro metros de altura. A enfermeira arregalou seus olhos de capivara assustada e tirou rapidamente a agulha. Alguma coisa estava errada. Nem falei nada sobre estar doendo muito, porque a capivara não entenderia nada.
Ela correu até a baixinha de bigode e aos prantos pediu para que ela tentasse pegar minha veia, porque nem o Tom Cruise na Missão Impossível poderia fazer isso. Eu olhei para aquela baixinha invocada assustada, na boa, depois de tantos furos, sem cabeça e com duas veias estouradas, tudo o que eu poderia sentir era medo. Essa baixinha falava e reclamava sem parar, disse que aquela “borboleta” não servia, que tinha que ser a infantil, senão não teria como pegar minha veia. Deixou o braço das veias estouradas e pegou o outro, deixou minha mão preta, bateu nela um monte de vezes, algodão com álcool geladinho e tupuf! Lá estava minha veia inteira recebendo a injeção. Logo me arrastaram para uma outra salinha, muito conhecida minha por sinal, a sala de inalações.
Foi um pouco desconfortável ver minha mãe lá me esperando quando era ela quem estava na verdade passando mal, eu olhei ao meu redor e me senti meio deslocada, porque tirando eu, o mais novo ali naquela salinha devia ter uns cem anos. Aquela injeção havia me deixado meio grogue. Era complicadíssimo ter de segurar o inalador, olhar para os meus amigos velhinhos e cochilar tudo ao mesmo tempo. Como toda pessoa normal, sai correndo da salinha logo que minha medicação acabou, correndo e tropicando até a rua e acendi um cigarro. Após ouvir minha irmã me xingar, talvez com razão, entramos novamente naquele carro. Minha mãe que não falava coisa com coisa estava me sacaneando dizendo que eu estava muito mais doida que ela.
De cu é rola!
“Quem diria? Quem diria? Trazemos sua mãe achando que ela ficaria internada e quem fica internada é você!” – diz meu tio rindo mais que o Bozo. Mas, mal sabe ele, que mesmo sem cabeça, com duas veias estouradas, mais louca que minha mãe e a Amy Winehouse juntas, eu ainda me lembrava que meu Totem é o Michael Jackson... Mas, essa já é uma outra história.

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